domingo, 21 de setembro de 2008

Tão bom morrer de amor e continuar vivendo (Mario Quintana)
"Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve,para que venhas comigo e eu para sempre te leve..." (Cecília Meireles)
"Tem muita gente que se distrai e é feliz pra sempre, sem conhecer as delícias de ser feliz por uns meses, depois infeliz por uns dias.... Viver não é seguro. Viver não é fácil. E não pode se monótono. Mesmo fazendo escolhas aparentemente definitivas, ainda assim podemos excursionar por dentro de nós mesmos e descobrir lugares desabitados em que nunca colocamos os pés, nem mesmo em imaginação. E, estando lá, rever nossas escolhas e recalcular a duração de "pra sempre". Muitas vezes o "pra sempre" não dura tanto quanto duram nossa teimosia e receio de mudar."
(Martha Medeiros)
"Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e os maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo. Isso é que libera a gente para ser feliz de novo." (Martha Medeiros)

sábado, 20 de setembro de 2008

O homem não morre quando deixa de viver, mais sim, quando deixa de amar!!!! (Charles Chapiln)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"Poeta tem mão de fada

Quando ele escreve a caneta

voa que nem borboleta,

vira vareta encantada.

Não é mais caneta não,

é varinha de condão."

(Léo Cunha)

Constante e doce entrega - Laisa Rosinki

Estende sua mão a mim,
Porque ja me perdi na imensidão desse sentimento
Olha nos meus olhos e me enxerga
Porque o espelho já não me reflete sem você
Ouça a música que encanta
Pois é com você que a escuto.
Guia meus passos
Pois sem os seus os meus perdem a direção
Cutive minha alma e meu coração
Pois eu os deixei em suas mãos
Cultua meu corpo pois ele é por inteiro seu.
E nessa doce e constante entrega
Ame,
e assim me faras por completo o que sempre quis ser.

Carta de Clara para Bia (livro Tudo q eu queria t dizer) Martha Medeiros


"Bia, minha doçura,

não não não, está proibida de ficar triste, pro-i-bi-da! Pirou? Perdeu a noção do perigo?

Caramba, como é que uma mulher como você pode se deixar abater pelo final de um romancezinho à-toa?

Sorry, sei que não foi à-toa, que você curtiu, foi bacana, tá bom, tá bom, é que, como não participei, não vi nada, mal conheço vcs dois juntos.

Mas puta que pariu, não pode ficar abalada desse jeito! Não você!

Não minha Biazinha, não minha amigona, minha fortaleza.

Você desmoronar é o prenúncio do fim do mundo, proíbo, não deixo.

Ahhhhhhh, tá bom. Sei que é foda.

Dor de cotovelo é pior que arrancar um siso, pior que fratura exposta - aliás, é uma fratura exposta. A gente fica ali vendo o osso pra fora, doendo feito a morte, e pensando se a coisa vai voltar pro lugar, se vamos andar de novo, se é possível tocar a vida sem se sentir um aleijado.

Pô, se vc não conseguir, quem vai?

Bia, chore escondido, se esparrame na cama e molhe o travesseiro, faça aquele numero q todo mundo conhece: chamar a si mesma de imbecil e decretar que nunca mais, nunca mais... Ora, nunca mais amar, nunca mais acreditar nas palavras bonitas desses sacanas, nunca mais tudo!

Dê seu show particular, reprise o dramalhão algumas noites, e depois enxugue essas lágrimas e volte pra vida.

Pra vida! Elé é o único homem do mundo? Não, né?

Você disse que foi uma espécie de milagre a história de vcs acontecer, então, minha santa, quem faz um, faz outro, aproveite o know-how e dá-lhe milagre!

Vc já fez tanto por vc, já foi tão longe, não vai entregar os pontos agora, nem pensar.

Eu queria estar aí em Porto Alegre pra segurar sua mão, pentar seus cabelos te levar para um shopping e dar um up nesse seu astral moribundo

-Vc ainda detesta shopping? Menina, que DNA defeituoso esse seu, me explica como alguém pode não gostar de comprar.

Gostando ou não, prometa que vai esta semana entrar numa loja bem cara e sair de lá com um monte de roupas que vc não sabe onde irá usar.

Ajuda, claro que ajuda. E nem ouse ler os e-mails dele, ver as fotos dele, lembrar dele!

Lobodomia autorizada, lacre essa parte do cérebro, a da memória.

Não lembre nada, não viva pra trás: planeje!

Foque no futuro: uma viagem, um projeto profissional, novos amigos, novos hábitos!

Encoraje-se, o verão está chegando e você está magra, magérrima! Bote esse corpão numa praia espalhe esse sorriso lindo e você vai ver o que acontece, Milagres!!

Não pergunte por mim, eu poderia ser animadora de auditório, mas quando se trata da minha própria vida é uma desolação.

Estou sem ninguém há séculos, aqui em SP sou a mulher invisível, poderia entrar num restaurante e sair sem pagar que ninguém viria cobrar a conta, já é um superpoder, não é?

Mas eu me acostumei com isso e nem dou mais bola, mas vc, Biazinha, vc é de outra linhagem, é uma mulher que precisa, pre-ci-sa estar amando, estar apaixonada, e vc exige estar sempre possuída por um encantamento.

Eu estive com você lá atras naqueles tempos duros e solitários, e sei que você merece um arrebatamento mais do que minha irmã até.

Não conte pra ela senão ela apertará aquelas duas mãos gordas no meu pescoço.

Bia, o que posso fazer de concreto a nao ser te potar essa pilha inútil?

Pensa que eu não sei que palavras não servem pra nada? Pra nada.

Sofrer por amor é um atraso de vida, e não há remédio que entorpeça a dor, que amenize, que anestesie, nada, nada, antidepressivo não funciona nessa hora, e cocaína não ouse...

A indústria farmacêutica ainda está muito atrasada em relação à corações feridos, não acha?Psiquiatra, que tal?

Conheço vc, é durona, vai resistir, vai sobreviver a mais essa rasteira.

Biazinha, eu sei de pelo menos três homens alucinados por vc, q largariam família, emprego, amante, saltariam de um foguete em movimento para voltar pra Terra e te pegar, então escuta, trata de sentar, respirar, ficar bonitinha e avaliar os candidatos.

Tô enxergando vc aí puta da vida do outro lado, dizendo que não quer saber de ninguém, só dele...

Esses homens! Como ficam importantes depois que somem. Antes você nem dava muita bola pra ele, agora olhe você.

Vai superar, belezoca. Um pouquinho de paciência e champanhe e vc melhora rapidinho.

Bia, não sei dizer coisas sérias e inteligentes que dizem nossas outras amigas, elas devem estar se sentindo mais úteis do que eu nesse momento, mas daqui de longe tudo que eu posso fazer é te mandar essas letras de apoio do meu jeito atrapalhado e sem conteúdo,

sou assim na alegria na tristeza, no amor e na doença, um traste que não sabe dizer coisas profundas mas que te abraça e beija, kisses!

A teoria do biscoito - Martha Medeiros

Uma vez minha vó me disse que homem é igual a biscoito: vem um, vêm 18.Eu devia ter uns 15 anos e achei graça. Mas só hoje, 14 anos depois, do alto da minha solteirice, eu compreendi tudo sobre essa teoria. E vi que vovó tinha razão. Funciona assim: quando a gente tá carente, sozinha, solteira, e sai ligando pra todos os paqueras, ex-namorados, rolos e afins, ninguém te quer, não é? Pois é. Essa é a primeira fase: tocos em profusão. Na segunda fase, a gente resolve que não precisa de homem nenhum pra ficar bem, e aí aparece um só pra contradizer nossa certeza de auto-suficiência. Vem todo carinhoso, romântico, paparicante... A gente baixa a guarda, começa a sair com o cara, percebe que ele é interessante, resolve ver no que dá. Vai saindo, conhecendo, ficando... E aí o que acontece? Entra na fase 3: a Teoria do Biscoito. Chega um momento em que tu sente que a historinha tá evoluindo pra um possível compromisso, que está gostando daquele carinha, mesmo que ele não seja o príncipe encantado que sempre habitou seu imaginário de mulherzinha. Só que aí, neste exato momento, TODOS os outros que te dispensaram antes começam a te ligar. Parece que eles farejam no ar, que combinam entre si. Acho que a gente deve exalar algum cheiro diferente que, interpretado pelo cérebro masculino, diz "eu encontrei alguém, não estou disponível". Imediatamente, você se torna o objeto de cobiça de todos eles. Talvez justamente por estar radiante, feliz e não-disponível. Aí rola aquela seqüência inacreditável de acontecimentos fantásticos. Você tá na vernissage com seu novo pretendente e aquele gatinho que você beijou a dois meses e nunca mais deu notícias começa a te ligar. Você vai pra boate sozinha (no dia que seu gatinho resolve ficar em casa descansando) e encontra aquele clone do Rodrigo Santoro, que namorava sua colega de serviço na década passada, e ele te olha, te acha linda e quer ficar com você. E aquele outro, que era seu sonho de consumo como namorado perfeito, partidão, mas que sempre te esnobou, começa a te ligar quase diariamente: chama pro cinema, chama pro showzinho, liga para perguntar o que tu tá fazendo, pra te falar do disco novo que comprou, liga só pra ouvir a tua voz... Tem gente que acha isso o paraíso. Mas na boa, eu acho que só serve pra atrapalhar. Porque, como mulherzinha do bem que sou, eu só quero essa penca de homens me ligando quando tô na guerra, que é pra poder escolher. Mas depois que eu resolvo sossegar com um, não quero que ninguém fique me ligando pra semear a discórdia e a dúvida na minha mente. Mas o babado é resistir às tentações. De repente, com tantos homens fantásticos te ligando, tu começa a olhar pro seu pretendente atual e a achar que ele não é tão bonito quanto o fulano, nem tão alto e gostoso como o beltrano, nem carinhoso e bem-humorado como o cicrano. Você questiona se não está com ele por pura carência, porque ele apareceu num momento de falta de opções no mercado. E essa é a grande cilada. Muitas não resistem. Dispensam o gatinho atual e tentam administrar todos os outros. Eu já fiz isso. Aí a Teoria do Biscoito entra na fase final: a de que quem come o pacote inteiro tem indigestão. Fica sem ninguém. Todos somem e você fica sozinha, se perguntando como foi que deixou escapar aquele carinha tão legal com quem estava saindo, só por capricho. Eu não sei se funciona assim para todas as pessoas. Mas eu decidi que agora vou dizer um sonoro "não, obrigada" para toda a fila de negrescos com super-cobertura, e ficar sim com aquele que não é negresco, mas é bono de chocolate. Que não é brastemp super-ultra-mega-estrelinha-plus, mas é consul-slim e se encaixa direitinho na minha casa. Que não é o príncipe encantado, lindo, maravilhoso, perfeito, em cima do cavalo branco, mas que é um cara real, de carne e osso, que está do meu lado e quer ficar comigo. Quem me diverte e me agrada, e gosta das mesmas músicas que eu, e gosta de dançar música trash dos anos 80, que me apresenta pros amigos sem nenhuma cerimônia, que fica bolando pequenas surpresas pra me fazer e que é, sim, muito lindinho à sua maneira. Simples assim. Se não der certo, não deu. Faz parte da vida. Mas eu não preciso comer o pacote inteiro de negresco pra saber que um bono de chocolate me satisfaz.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

As cem razões que o amor desconhece - Martha Medeiros

Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes do Woody Allen, do Hal Hartley e do Tarantino, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem namorado?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do Cupido do que por uma ficha limpa.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele adora o Planet Hemp, que você não suporta. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, mas você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, ele adora animais, ele escreve poemas. Por que você ama esse cara? Não pergunte pra mim.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou murchar, você levou-a para conhecer sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de rock e ela de MPB, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano-Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são referências, só. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo o que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas só o seu amor consegue ser do jeito que ele é.

Um novo amor pra esquecer - Martha Medeiros

Alguns leitores pensam, equivocadamente, que tenho formação psicanalítica. Não me importo, ao contrário, me sinto lisonjeada, sinal de que confiam nos meus palpites de leiga. Por causa dessa confusão de papéis, de vez em quando alguém me escreve contando suas dores de amor e termina fazendo uma perguntinha prosaica:" como é que eu esqueço o desgraçado" ? Se eu tivesse o topete de me meter, diria que o primeiro passo é desejar esquecer mesmo, coisa que quase ninguém quer. Pô, depois de tantas ilusões e tantos bons momentos vividos, esquecer tudo seria como cair no vazio. Melhor ficar por um tempo com a companhia da dor, que ao menos preenche a vaga que ficou aberta. porém, mais dia, menos dia, todos se fartam de sofrer, e aí só tem um remédio; investir num novo amor. É o que eu respondo pra encurtar a conversa e não ser processada por charlatanismo, já que essa dica é um clichê de domínio popular.

De fato, um novo amor, sendo amor mesmo, é o que funciona para quem quer partir para outra. O probleminha está nesse "sendo amor mesmo" , já que raramente é. Às vezes, a gente sabe desde o início que o tal novo amor é apenas um passatempo, um elixir contra a solidão. Se você for do tipo que não olha pra trás, que leva tudo numa boa, que tem como esporte preferido fazer a fila andar (seja com quem for), boa sorte, está salvo. Mas se isso for apenas uma fachada e no fundo você for hipersensível, esse novo amor pode ter um efeito contrário: confirmar a força do amor anterior.
Até parece fácil. Um amor se vai e a gente grita da janela: próximo! Só que esse próximo vai te beijar de uma maneira diferente, vai ter um papo diferente, vai ter hábitos diferentes. Animador? Sei não. Isso tudo pode apenas te entorpecer em vez de te curar.
Isso tudo pode apenas te entorpecer em vez de te curar. Se a relação que terminou tiver sido muito forte e séria, essa troca de bastão instantânea pode gerar uma saudade absurda daquele que se foi. Vale a pena correr o risco?

Tudo é risco na vida, mas, nesses momentos, prefiro ficar na minha. Claro que não coloco um cinto de castidade e me fecho para o mundo - se por um acaso surgir alguém que me desperte a imaginação e os hormônios, quem sabe? Mas não procuro nada. Não ligo o radar. Não saio pra noite. Não fico na fissura por uma substituição imediata. Aproveito a entressafra para matar saudade de mim mesma, já que em toda relação a gente esquece um pouco de si, se doa, contemporiza, regateia, em alguns casos até invente um personagem. Sozinha, eu não preciso fazer concessões nem imposições - não é preciso negociar. Vou perder uma oportunidade rara dessas?

Norman Mailer certa vez escreveu: " As pessoas procuram o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas". É isso aí. Primeiro aprendaa administrar seus conflitos e tristezas, aceite suas oscilações de humor, busque a serenidade, fortaleça sua auto-estima e ampare-se em si próprio, sem se valer de bengalas emocionais. Aí sim, feito o dever de casa, seu prêmio estará a caminho.

Pra me conquistar basta dizer tudo aquilo que nunca ouvi de ninguém, se vestir como homem e não como gay, me tocar sem medo, sem segredo , entrar e sair da rotina sem que eu note , me levar para lugares exóticos e lugares comuns , saber ficar em silêncio e assim me dizer tudo . Gostar de rock como eu gosto e de coisas que eu não gosto, compreender a vida como é e buscar o outro lado , saber a hora exata de ficar e ir embora mas não vá... (Martha Medeiros)

Diferença de necessidades - Martha Medeiros

“Procedíamos de galáxias diferentes, como dois cometas que se cruzam efemeramente no espaço. Ele vinha da infância e nunca tivera uma parceira estável, queria me viver até me esgotar, queria que montássemos juntos uma casa, que sonhássemos um futuro, que nos enchêssemos de compromissos de eternidade até as orelhas. Eu, provinha da fatigante travessia da idade madura, sabia que a eternidade sempre se acaba, e tanto mais cedo quanto mais eterna. E assim fui avarenta, me neguei a ele, afastei-o de mim. Quanto mais ele me exigia, mais me sentia asfixiada; e, quanto mais me regateava, mais ansiosamente ele queria me segurar. Dito isso, se ele se retirava, eu avançava, e então o perseguia e o exigia: porque o amor é um jogo perverso de vasos comunicantes.”

Gastei bom pedaço da coluna transcrevendo esse parágrafo do excelente livro “A filha do canibal”, da espanhola Rosa Montero, pois eu não saberia descrever melhor a razão de tantos desencontros amorosos. O relato refere-se a um homem e uma mulher com alguma diferença de idade – ela é a mais velha, lógico, como tem se tornado comum hoje em dia. Muitas pessoas duvidam que uma relação assim possa dar certo. Claro que pode. Tudo pode dar certo e tudo pode dar errado, e a idade nada tem a ver com isso, é apenas um detalhe na certidão de nascimento. O que transforma nossa vida amorosa num melodrama é a diferença de necessidades. Aí não há casal que encontre seu ponto de apoio, seu eixo e seu futuro.

Um quer compromisso sério: para o outro, amar já é sério o suficiente. Um quer filhos, o outro nem em sonhos. Um quer uma casinha no meio do mato, o outro é curioso, precisa de informação, cinema, teatro, gente. Um valoriza a transa antes de tudo, o outro acha que conversar é importante também. Ao menos, os dois gostam de dançar.

Um quer se sentir o centro do universo, o outro quer incluí-lo no seu amplo universo. Um quer fugir da solidão, o outro aceita a solidão. Um não quer falar de suas dores, o outro pergunta demais. Um briga.
Os dois se amam, isso não se discute.
Um não precisa conhecer o mundo, o outro traz o mundo em si. Um é romântico para disfarçar a brutalidade, o outro é doce para despistar a secura. Um quer muito de tudo, o outro se contenta com o mínimo essencial. Nenhum dos dois liga pra dinheiro, mas o dinheiro quase sempre está no bolso de quem viveu mais. Um fica inseguro, o outro diz que nada disso importa, mas claro que importa.

Um quer que lhe dêem atenção 25 horas, o outro precisa que o esqueçam por uns instantes. Um quer aproveitar cada réstia de sol, o outro gostaria de dormir um pouco mais. Um gostaria de saber o que não sabe, o outro queria desaprender metade do que a vida lhe ensinou. Um precisa berrar, o outro chora.

Um quer ir embora e, ao mesmo tempo, não. O outro quer liberdade, mas a dois.

Então um se vai e deita em todas as camas, sofrendo. E o outro mergulha sozinho na dor, sobrevivendo.

Diferença de idade não existe. A necessidade secreta de cada um é que destrói ilusões e constrói o que está por vir.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A minha despedida.

A carta


Sabe, eu gosto muito de cartas, cartas são sempre tão cheias de sentimentos, escrever uma carta é dedicar mais do que palavras e tempo, escrever para alguém é dedicar seus pensamentos. Muitas cartas, assim como esta, nem são para serem enviadas, apenas lidas, relidas e picadas em pedacinhos por nós mesmos depois de algum tempo. Cartas são muito mais remetente do que destinatário. Esta então é pra você e para o nosso fim.

Não preciso de cabeçalho nem d introdução, vou direto ao ponto.

... O que difere os seres humanos dos demais pra mim é a consciência de suas escolhas, eu fiz a minha enquanto te amei e me entreguei a você e você fez a sua, de não viver esse amor. Me revolta, me entristece, me deprime, mais fazer o que? São as suas escolhas. Como disse, ao te amar escolhi me entregar de corpo e alma. O que me atordoou por muito tempo foram as conseqüências desse amor. Incalculado, incoerente, inaceitável... mais de minha parte amor! E eu acho o amor um puta de um sacana, ele chega, entra sem bater a porta, sem pedir licença, se instala dentro d nos e bummm. E como é inconveniente esse amor... injusto, definitivamente é injusto: “amor depende do outro e não depende de nada, é simplesmente amor” Este só deveria sucumbir para duas pessoas em igualdades de condição, eu só deveria me apaixonar por você se você se apaixonasse por mim também, seria tão mais fácil... tão menos doloroso... só aprenderíamos menos, mais nesse caso, acho que nem teríamos muito a aprender.

Se o amor fosse assim, brotado por dois corações, nós não teríamos problemas, não é mesmo? Pois afinidades tínhamos aos montes, interesses em comum de sobra e os desejos à transbordar. Mais não tínhamos o principal, duas pessoas a mercê do amor. Durante muito tempo eu achei que ele também chegaria a você, que uma hora você iria se tocar de que não precisava de mais nada alem de mim, e que não corria riscos em se entregar a esse sentimento. Mais isso você nunca percebeu, ou não quis perceber, ou melhor, essa não foi a sua escolha.

Sendo assim meio tonta e estúpida insisti num erro durante muito tempo, você sabe o quanto estivemos nessa, era só ver um indicio de que me amava e eu chegava aos céus. Meu maior equivoco talvez tenha sido minha transparência, você soube o tempo todo o quanto eu era sua. Mais essa relação não chegou ao fim por conta de erros ou falhas. Termina por ausência, incapacidade (o que é muito pior). Acho que esse é o pior tipo. Pois não existe culpa só rejeição. Você me quis ao seu lado, na sua cama, e em boa parte do tempo, só não quis me amar. Por me sentir dependente desse tão estúpido amor fui indo durante muito tempo, me remetendo as suas mais ridículas condições. Mais agora basta, e nem me venha você com esse charme barato, não me permito mais tal humilhação.

Então amor acaba? Acredito que não, ele vai estar sempre aqui, será minha eterna cicatriz, o que acabou foi a minha paciência.

Um novo grito ecoa no meu peito: eu quero mais! Muito mais! Mais não mais de você!

Porem, a principal relevância desta carta esta em te dizer que não quero levar as magoas, os choros e nem os arrependimentos. Isso só me diria o quanto fui burra. Levo somente as boas lembranças, os sorrisos, as minhas alegrias e tudo que valeu a pena.

Venho te revelar sua importância, você foi o homem que fez me mulher, que me fez me sentir desejada... Você foi um capitulo importante, mais já não é mais o protagonista da minha história, agora chegou a hora de amar me sentir amada.

Portanto Adeus.

Um adeus enfim tranqüilo.




Deborah Cocchiarale

Foi então que ela viu no calendário um sofrimento diário uma dor que tinha número e uma aflição que já havia um mês Foi então que resolveu queima-lo e trocá-lo por uma ampulheta que baixa o amor mais rápido e mata o amor de vez. (Martha Medeiros)
"Todo conto de fada faz-de-conta que não sabe." (Martha Medeiros)

Não era AMOR - Martha Medeiros

Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada. Eu sei,não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu patio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória,sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. NÃO ERA AMOR, ERA MELHOR"

Fica Combinado assim: você louco por mim, e eu louca ate o fim!!! (Martha Medeiros)

Lendo-me no poema - Martha Medeiros

O muro quase branco pede um testemunho grafitado

A mesa empoeirada pede um poema rabiscado com o dedo

O carro sujo pede um Vilma Ama João no vidro traseiro

A areia da praia pede um coração desenhado com um pedaço de pau.

Mas a onda apaga todas as declarações impulsivas

A mangueira limpa as confissões automotivas

O poema some do perfex da criada

E o grafite é condenado pela prefeitura.

Duram mais os amores silenciados...

Loucas e Santas ( Martha Medeiros)

Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.
" São versos de Adélia Prado, retirados do poema "A serenata".
Ele narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo ou mais tarde um homem virá arrebatá-la,
logo ela que está envelhecendo e está tomada pela indecisão
– não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude.
E encerra: "De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?"
Adélia é uma poeta danada de boa.
E perspicaz.
Como pode uma mulher buscar uma definição exata para si mesma estando em plena meia-idade,
depois de já ter trilhado uma longa estrada,
onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo ainda mais estrada pela frente?
Se ela tiver coragem de passar por mais alegrias e desilusões
– e a gente sabe como as desilusões devastam - ,
terá que ser meio doida.
Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção.
Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?
Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa.
Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe???
Nem ela caríssimos, nem ela.
Existe mulher cansada, que é outra coisa.
Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou.
Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade.
Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres.
Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.
Santa, mesmo, só Nossa Senhora, mas, cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou?
(Não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do.)
Toda mulher é doida. Impossível não ser.
A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor,
a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one,
aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais.
Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?
Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas,
ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca,
pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp,
ou então virar louca e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta,
sua imaginação deve ser melhor que a minha.
Eu só conheço mulher louca.
Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações:
exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante.
Pois então. Também é louca. E fascina a todos.
Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham.
Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.
Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora.
E santa, fica combinado, não existe.
Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada?
Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra.
Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
(Vinicius de Moraes)