sábado, 12 de julho de 2008

aos olhos dos outros - Martha Medeiros

A primeira vez que você o viu foi num bar. Você estava com uma turma e aí ele apareceu, sentou na mesa com vocês e começou a brilhar: todo mundo ria muito de suas tiradas inteligentes, todo mundo ficava encantado com o jeito sedutor do cara, todo mundo o achou gente fina. Todo mundo, inclusive você, que dali em diante passou a investir naquele bilhete premiado e se deu bem: começou a namorá-lo.

Passado um ano, o namorado encantador virou um marido bacana, e, passados 10 anos, o marido bacana virou um marido como outro qualquer: ronca à beça, faz uns comentários nada a ver e há muito que deixou de ser um gato. Você o ama, mas já não o admira. Perigo à vista.

Um dos maiores fermentos de um relacionamento amoroso é a admiração. É desanimante atravessar os dias sem sentir orgulho da pessoa que está vivendo ao nosso lado. É prioritário seguir para sempre pensando que ele é um bilhete premiado. A cada observação perspicaz que ele faz sobre um fato, a cada gesto de solidariedade para com um irmão, a cada bola dentro que ele dá no trabalho, é um alívio pensar: este é o cara que escolhi para estar comigo. Um sujeito legal.

Depois de muito tempo de convívio, a tendência é pensar que o sujeito é legal, sim, mas o namorado da Adriana tem mestrado e doutorado, o marido da Verônica pratica esporte radicais e o da Marina tem um senso de humor como nenhum outro. A grama do vizinho é sempre mais verde.
A rotina compromete nosso julgamento. Você anda achando que o amor da sua vida não está com essa bola toda? Saia mais com a sua turma e repare como o pessoal reage diante dele. Surpresa! Ele continua a fazer os outros rirem e a hipnotizar com o seu charme. Inclusive aquelas duas fulanas que se dizem suas amigas parecem bastante interessadas no material. Amor, vamos voltar pra casa?

Faça o teste. Quando nossos olhos ficam embaçados, nada como usar os olhos dos outros para voltar a valorizar o que é nosso.

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